Esta semana dois episódios me marcaram bastante acerca da força de uma frase bem feita e bem colocada. Unindo as duas aqui e contando a você, tenho pronto o título destas linhas que vamos começar a construir juntos – eu escrevendo, você lendo. E tomara que possamos, à moda de Umberto Eco, ter aqui uma espécie de ‘obra aberta’, ou seja, que o que eu escreva aqui possa ser discutido, entendido, questionado, ampliado, reescrito, aberto e reaberto em um novo texto, seja oral, seja escrito.
O primeiro fato ocorreu em minhas curtas andanças pelo feed dofacebook, quando me deparei com a máxima: “O mundo precisa de loucos; loucos uns pelos outros!”. Apaixonei-me pela criatividade do autor, anônimo, e confesso que gostaria de ter escrito isso. Como estamos aqui para tentar uma, ainda que pequena, obra aberta, façamo-la a partir de então. Assim que li, na mesma hora me veio o texto de 1 João 4,20 à mente, que parafraseio aqui – ‘se alguém diz que ama a Deus, a quem não vê e não ama a seu irmão a quem vê, temos aí um grande mentiroso!’ Logo depois fiquei a imaginar que o evangelho é exatamente essa loucura da paixão de Deus pelo homem – um Deus louco por mim! E o sorriso instantâneo me vem aos lábios em pensar como é profundamente maravilhoso viver e sentir essa paixão do Deus que simplesmente é amor, este que a música popular interpreta muito bem – ‘amor que eu nunca vi igual… amor que não se pede, amor que não se mede, que não se repete, amor…!’
Nesta minha aventura musical, o segundo fato foi o verso de uma canção gospel extremamente poético: ‘Eu sou momento, Deus é eternidade’. Lá retornei eu aofacebook para compartilhar essas duas frases em relação de oposição e que, sem discussão alguma, apontam juntas fragilidade e efemeridade, verdadeiramente minhas; grandeza e atemporalidade, grandiosamente, de Deus. Ele conhece a minha estrutura e sabe que eu sou pó. Ele conhece todo o universo e ultrapassa o espaço-tempo da física quântica para me dizer todo dia que sua misericórdia não tem fim ainda que eu seja só um momento. Fiz um adendo ao verso: ‘às vezes penso que sou milésimo de segundo’ diante desse ‘tempo divino’: o chamado ‘aoristo’ da gramática grega que eu e o tempo verbal da língua portuguesa não conseguimos alcançar, tampouco entender. Na verdade, o aoristo é um aspecto (e não um tempo!) verbal puro, que não tem início nem fim, não tem limitação temporal – e é ele usado para as ações eternas – comoamar – do Deus Pai e de Jesus, o Filho, no Novo Testamento…
O tempo e o amor de Deus são algo que a gente nunca vai compreender. Isto é fato. É, no entanto, obra aberta em nosso coração e em nossa mente porque Ele se permitiu abrir, se permitiu ser lido e interpretado por nós, gente de carne e osso, limitados que somos. Definitivamente, Deus se permitiu habitar conosco e em nós apesar de nós. Isso é momento de eternidade. A única forma que me vêm à mente para encerrar (mas não fechar!) e criar a abertura necessária de nossa conversa hoje, é com música brasileira novamente, iluminada pelo sentimento de Deus por nós ao doar-se e desvelar-se em Jesus: ‘por ser exato, o amor não cabe em si; por ser encantado, o amor revela-se; por ser amor, invade e fim’.
No Deus que ama eternamente,
Alessandra Viegas