Natal – por Nelson Marriel

Estamos nos aproximando mais uma vez do Natal, mas o que seria este evento? Para nós cristãos é a data que marca a chegada do menino Jesus, o salvador. Aquele que encarna todas as promessas de Deus, os sonhos e desejos de felicidade e alegria de todos os seres humanos.

O Natal é um momento de festa. Onde há festa, há alegria, há música. Ao me permitir pensar no Natal, trago a mente o seu sentido – momento de rememorar as promessas cumpridas por Deus no menino  Jesus. Faço isso recorrendo a uma música de Gonzaguinha, excelente poeta e músico brasileiro.

Plagiando esse grande músico, eu diria que “viver o Natal é não ter a vergonha de ser feliz, tentar e tentar, ousar e ousar ser”. Uma busca do eu, ser você mesmo no encontro com este menino Jesus. Viver é buscar a criança linda que há dentro de você, é percebê-la, ouvi-la, se deixar ser possuído por ela. É deixá-la comunicar-se, entrar em contato, se deixar contagiar/contaminar.

Viver é fazer essa criança nascer, crescer, brincar, peraltear, cair e se levantar, amadurecer. Viver é ouvir a batida do seu coração, é contar o número de batidas e saber distinguir o tom, o ritmo, para então “curtir” a melodia, o som, a musicalidade do ser. Sentir prazer nesta doce e amarga brincadeira do estar sendo.

Viver é ter medo de checar as suas verdades com as dos outros. Viver é arriscar-se, é se expor. É também, fazer contato com o outro, com os outros, consigo mesmo, com o belo e com o feio. Viver é experimentar o doce e o amargo da vida para poder se nutrir do todo. Viver é abrir-se para o mundo, para o outro, para o risco de não ser na busca do ser. Porque no medo de não ser, o ser que está em você se embota, se perde. Neste perder-se você não consegue perceber o ser, o outro, o belo, o totalmente outro – a divindade. A beleza de poder ser e conhecer o que mais sagrado às pessoas têm, ou seja, elas mesmas. É nesse colorido da variedade do ser que o belo se manifesta. É nesse experimentar o amargo e o doce, o bom e o ruim que o belo desponta. É nesse movimento que o menino se revela, o Jesus de Nazaré se apresenta e o Cristo nos aborda.

Como diz um pensador, o poeta nos toca não pelo que ele diz ou escreve, mas pelo que ele descobre em nós. O poeta nos toca porque revela o belo que está em nós, lá nas profundezas do ser, do eu – faz despertar o desejo, os sonhos, aquela vontade incontida e às vezes compulsiva de ser feliz. Pois a poesia funciona como se fosse um espelho que revela a nossa face, o eu, o vulnerável. Mas também as qualidades e a potencialidade do estar sendo… É nesta revelação de vulnerabilidade que a força se faz, que o ser se manifesta, se reequilibra, se apresenta forte e a mensagem no natal se expressa.

É necessário cantar e cantar os nossos medos. Porque quem canta os seus males espanta. É imprescindível o rito do canto para exorcizar os fantasmas, os monstros que se escondem dentro de nós. É necessário ter fé no cântico, no canto, no som, nos ritmos do viver. É mandatário acreditar na força da voz para que o ser tenha vez. É necessário acreditar no homem, na mulher, é necessário acreditar em si, no outro e no todo. É importante se deixar envolver pelo espírito do Natal. Os sentidos que ele desponta – nascimento; novidade; dúvidas e incertezas; alegrias e tristezas; mas sobre tudo esperança. Um Deus presente em cada um de nós. É significante perceber que Deus só é reconhecível na medida em que se deu a conhecer no encontro, com o outro – com o ser humano e como ser humano. A revelação é um evento aberto a uma resposta, uma comunicação, baseada numa nova relação entre o divino e o ser humano – É o resgate da fé.

Neste Natal marque um encontro, com você mesmo e com Deus. Deixe essa criança despertar, passar a existir em você. Nasça de novo. Permita-se esperar vivendo já essa esperança.

Feliz Natal.