Ser cristão, metodista e ecumêncio

Quando me apresento como pastor metodista, me perguntam acerca dessa “doutrina”. Pouco se sabe, infelizmente, sobre o tema.

     A Igreja Metodista é parte da Igreja Cristã. Nasceu na Inglaterra, no século XVIII, e tomou corpo mais formal nos EUA durante o século XIX. Surgiu como uma reforma da Igreja Anglicana – a Igreja oficial do Reino Unido – e tinha por principais pilares: o reacendimento da vida espiritual e a inclusão dos marginalizados pelo sistema vigente motivada pelo despertamento da igreja para as questões de ordem sócio-econômica.

A Igreja Metodista não nasceu, simplesmente, como uma divisão da Igreja Anglicana. Nasceu como movimento de reforma e releitura dos fundamentos daquela Igreja. Foi, somente, com a independência dos EUA, no final do século XVIII, que o movimento metodista já instalado nas terras americanas, viu-se obrigado a proclamar independência da Igreja inglesa, tal como acontecera com as colônias norte-americanas.

   O primeiro dos pilares do movimento metodista foi o reacendimento da vida espiritual dos cristãos. Para os metodistas originários, havia urgência em reviver as experiências mais fundamentais da fé. Experiências de oração, jejum, leitura meditativa da Bíblia e observância mais detida dos mandamentos divinos. Nesse contexto, a Igreja Metodista proporcionou um verdadeiro avivamento religioso na Inglaterra marcada pelas durezas e injustiças sociais da Revolução Industrial. Ser Metodista é, antes de tudo, cultivar uma vida espiritual de humildade, transparência e temor a Deus.

     Em segundo lugar, a Igreja Metodista nasceu com a incansável luta pela inclusão dos marginalizados pelo sistema. Com o crescimento urbano originado pela Revolução Industrial e o rápido êxodo rural provocado, as condições de vida tornavam-se cada vez mais desumanas. A jornada de trabalho excedia às 14 horas diárias; crianças trabalhavam indiscriminadamente; os salários sequer correspondiam às necessidades mais elementares de sobrevivência. O movimento metodista surgiu como voz crítica e denunciadora de tais excessos. Foi porta-voz dos mais fracos e, pela via do diálogo e das lutas pacíficas, contribuiu para reformas sociais importantes, tanto nas questões trabalhistas como de assistência social. Foi nas dependências de uma igreja metodista nascente que surgiu a primeira escola destinada a crianças pobres, com o objetivo de ensinar-lhes a ler e escrever. Ser Metodista é, também, ter uma experiência religiosa que transborda os muros da igreja e nos coloca nas ruas, onde os problemas reais estão e para onde devem estar voltados nossos olhos, nossa atenção e, sobretudo, nossa prática. Nas palavras de John Wesley – precursor do movimento metodista – “o mundo é a nossa paróquia”!

      Por fim, há que se registrar que a Igreja Metodista é cristã, evangélica, reformada e ecumênica.

     É cristã porque reconhece Jesus Cristo, filho de Deus, como único caminho de salvação. Dessa maneira, se une a todos os ramos da Igreja de Cristo espalhada pelo mundo. Desde Católicos Romanos a Ortodoxos gregos, de Episcopais ingleses a Luteranos alemães, de Batistas norte-americanos a  Pentecostais latino-americanos.
 

    É evangélica porque reconhece na Bíblia (tanto no Antigo como no Novo Testamento) a Palavra de Deus e vê nos Evangelhos de Jesus Cristo o cerne da Palavra de Deus destinada aos homens. Baseia sua fé nos princípios evangélicos.

    É reformada porque é herdeira do movimento protestante nascido no século XVI de releitura dos fundamentos da Igreja Cristã. Reconhece a salvação dos homens única e exclusivamente pela Graça de Deus e, não, pelos méritos ou obras humanas.

    É ecumênica porque não se compreende como a única detentora da verdade, mas admite verdade e salvação em outras igrejas irmãs que amam a Deus sobre todas as coisas e reconhecem a Jesus Cristo como filho de Deus, salvador dos homens.

RICARDO LENGRUBER